Conversas de "bus stop"

Estava eu, hoje ao fim da tarde - já umas 19 horas, talvez - na paragem mais próxima do IBMC, à espera do autocarro para ir para casa. Enquanto o dito não aparecia, eu esperava encostado de costas para o placard de publicidade da JCDecaux, a tentar vislumbrar o seu vulto ao fundo da rua.

Após uns cinco ou dez minutos de espera chega uma senhora baixita, "forte", já nos seus cinquentas, com um cabelo enorme apanhado em rabo-de-cavalo, óculos, sapatilhas e mochila às costas. Às tantas, o telemóvel dela toca. Pareceu-me que ela viu quem lhe ligava mas não atendeu; esperou que parasse de tocar e voltou a guardar o aparelho na carteira.

Do nada, sem razão nenhuma, vira-se para mim e avisa-me "Não atenda chamadas de números desconhecidos". Errr... OK, que é que se passa?. E continuou, com qualquer coisa do estilo "Há uns tipos que ligam para as pessoas e depois conseguem descobrir os dados do cartão e, no fim, vai-se a ver e temos uma conta de dezenas e dezenas de euros!"

Tentei manter uma cara minimamente normal mas sem querer dar-lhe troco; aliás, nem lhe respondia com palavras, era mais com acenos de cabeça ou expressões faciais. A tipa é maluca, não me conhece de lado nenhum e está a falar assim comigo... por razão nenhuma!

"Andam aí uns informáticos, licenciados e tudo. São mas é uns hackers" - Oh, meu Deus... - "Ligam-me sempre à mesma hora, mas eu já os topei. Se fossem pessoas conhecidas, identificavam-se, não?" Claro. E o autocarro que nunca mais vem...

Depois, pelo pouco que percebi da conversa, em voz meio abafada, hoje tinha dado (ou feito?) o último exame. Tinha licenciatura e dois mestrados? OK, já não sei se estou a inventar, sequer. Tinha três filhos e tinham ou estavam prestes a terminar os seus mestrados. Já tinha estado em várias universidades e a do Porto é das mais caras (aparte: o que é bom, custa, lol). "Astronomia, só no Porto".

Yes! Aí vem um autocarro! Oh merda, não é este. Mas... ela vai neste! Até que enfim!

Despediu-se com um sorriso e um "Boa sorte para os seus exames". Eh pá, até foi simpática agora. Agradeci - vocalmente - sem me dar ao trabalho de dizer que há quase dois anos que sou licenciado...